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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Jonas Sá


Jonas Sá ANORMAL!! - por Arnaldo Antunes

"A música pop parece às vezes estar tão saturada de si mesma, que nos surpreende ouvir algo que fale essa língua com tanto frescor e entusiasmo, como esse Anormal, de Jonas Sá..

Radicalmente pop, em todos os bons sentidos que a sigla pode abranger, inclusive a anormalidade — estranhamento, originalidade. Músicas como Anormal, Sayonara, Melhor Assim, que a gente não quer que acabem; que quando chegam ao refrão dá vontade de subir o volume, para além do dez, até aonde o botão não vai mais.

Alargando os contornos dessa linguagem, entre normal e anormal, com direito ao paranormal (“Marque um encontro / entre vossas ondas / cerebrais”) — equações de uma matéria que se renova enquanto reafirma sua capacidade de comunicação simples e direta.

De Jorge Ben a George Benson, de James a Carlinhos Brown, muitos são os ecos que Anormal desfralda, em estilhaços de referências — Mutantes, Lulu Santos, Los Hermanos, Beck, Gil — sem deixar de afirmar uma identidade própria na maneira de compor, no vigor do canto, na concepção inventiva dos arranjos.

O disco de Jonas me faz lembrar a densidade dos discos de Cassiano, com suas muitas camadas de informação sonora, resolvidas em um projeto claro e audacioso. Exuberância concisa. Tudo aqui soa grande, sem ser grandiloquente.



Ao mesmo tempo, parece impossível um disco tão cheio de elementos e texturas (estão lá o “sofá felpudo” e o “tapete de pele de vaca”, “a água suja da pia” e o “mel de abelhas na garrafa”, a “lama da galocha” e as “plumas”; substâncias táteis e palpáveis), ter tanta leveza. A mixagem é um primor. Ouve-se tudo claro, com peso e pegada. Teclados, metais, cordas, coros de muitas vozes, bateria, percussões, baixo, muitas guitarras. Jonas, Bartolo e Moreno, que produziram, gravaram e editaram, conseguiram deixar tudo definido, bem delineado. Parece que a gente enxerga o desenho do que cada instrumento está fazendo.

Equilibrada ponte que nos leva ao universo livre de mega-maravilhas.

E também exploram ruídos, sobreposições de timbres, filtros e distorções, sem temor nem vulgaridade. Tudo tão bem integrado às canções, como se elas e o som que as cerca pertencessem a um mesmo organismo, indissociáveis. Assim como a letra de Anormal, que abre o disco, descreve simultaneamente um ambiente e uma pessoa; partes um do outro (como também em Looking For Joy: “I’m looking for the one/ who will be my home/ deep inside the heart”). As fotos do encarte parecem reiterar isso — a boca que canta enrolada nos cabos dos instrumentos.


Assim, as melodias adoçam as ruidosas batidas que as sustém, as sílabas se entrelaçam aos riffs de guitarra ou de metais, as frases de percussão ou de teclado criam contrapontos com as divisões do canto, as tramas de cordas ou vocais ambientam as palavras dando-lhes profundidade.

A cada momento uma surpresa — uma segunda voz, um efeito, uma quebrada, um breque, uma mudança de plano entre os instrumentos; sem nunca perder a fluência.

Como alguém pode chegar assim tão maduro em seu primeiro disco?


Lembro de que, em 2003, quando estava trabalhando numa pré-produção, com Bartolo e Pedro Sá, no estúdio de Pedro, no Leblon, Jonas apareceu e mostrou algumas gravações desse disco, que estava em processo. Àquela altura já havia um material denso, com uma grande quantidade de canais gravados em cada faixa. Ouvindo o resultado agora, anos depois, parece um milagre o modo como a realização final ficou à altura da ambição do projeto. O disco foi sendo feito aos poucos, ao longo de seis anos. E os muitos componentes foram todos se equilibrando para, ao mesmo tempo, fortalecer e violentar as canções.

Quanto a elas, surpreendentes em sua potência e eficácia, parecem se amarrar tematicamente, criando curto-circuitos para falar de si através do outro (Anormal), de si para o outro (Tenha Um Bom Dia, Sayonara), do outro para si (Real Love Real Player), de si para si (De Mim Pra Eu, Apenas 1), de si contra si (Versus), do outro para o outro (Comunicação).

Dança de sentidos que embaralha primeira, segunda e terceira pessoas, numa interação que vai mudando a cada canção, num leque variado de alternativas e alteregos.

“Entre o dentro e o fora/ Entre as belas e as feras”.

O Anormal de Jonas injeta vida nova no panorama da música pop que se faz no Brasil, no mundo, nas esferas."

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