Escola Nacional de Circo da Funarte é a única instituição de ensino diretamente mantida pelo Ministério da Cultura.
Criada em 13 de maio de 1982 pelo circense Luís Olimecha para realizar cursos regulares de formação profissional e de reciclagem de artistas, a ENC veio atender a uma antiga reivindicação dos profissionais de circo de todo o país. Eles constatavam que, a exemplo de outros países, esta seria a melhor forma de se preservar a tradição milenar desta arte, cujo ensino e transmissão até então estavam restritos aos núcleos familiares.
Em mais de duas décadas de existência, a ENC formou uma quantidade significativa de profissionais que, empregados nos maiores circos no Brasil e no exterior, vêm fazendo sucesso e contribuindo para a renovação da linguagem circense.
Atualmente, a ENC mantém 200 alunos matriculados, em dois turnos.
A Escola Nacional de Circo ocupa um local muito querido aos circenses: a Praça da Bandeira, nº 4 , no Rio de Janeiro, um tradicional ponto de armação de circos no século 19 e início do século 20.
O terreno de 7.000 m² abriga um moderno circo completo de quatro mastros, permanentemente armado, com capacidade para 3.000 espectadores.
O espaço possui ainda salas de aula, dança e musculação, fisioterapia, refeitório, e oficinas para confecção e conserto de aparelhos.
Missão
Preservar a tradição da Arte Circense por meio de seu ensino regular e sistêmico, criando um espaço cultural legítimo, aberto à reflexão e à experimentação.
Objetivos
Formar o artista circense através do domínio de habilidades e técnicas, capacitando-o para:
- Elaboração e execução de números com excelência;
- Montagem de equipamentos com segurança;
- Organização do espaço cênico circense;
- Domínio dos fatores técnicos que interferem na realização dos espetáculos;
- Reciclagem e especialização de profissionais circenses do Brasil e do exterior.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Escola Nacional de Circo - RJ
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sábado, 19 de abril de 2008
Músicas
Como Um Vencedor(Línox)
Acordou, quem estava dormindo
Acordou descansado e sorrindo
Acordou para a vida aqui fora
Acordou porque já era a hora
Acordou pro tratado divino
Acordou nesse sonho o menino
Acordou como quem pede bis
Acordou pra tentar ser feliz
Visitou seus antigos valores
Despediu-se de amigos e amores
Empunhou-se das tais novas armas
E apontou para os seus velhos carmas
Flutuou sobre sua coragem
Desligou-se da antiga imagem
Revelou-se alguém a procura
Preparou-se pra etapa mais dura
E ai juntou
Todo amor que tem
Com a força de quem vem
Inaugurar a fé
E assim lutou
Afim de conquistar
O seu lugar ao sol
Como o bom vencedor
Que é.
Nave Mãe(Anderson Chokolate)
hoje eu tentei mãe
me reportar ao nada
quando eu cheguei mãe
na sua longa estrada
se era noite,
se era dia
eu não sei
eu só sei que,
por nove meses
em ti eu naveguei.
(refrão)
chegou a hora seu filho nasceu
pra fazer história
mais um filho de Deus
hoje eu tentei mãe
ouvir o seu coração
não consegui mãe
então fiz essa canção
so pra te dizer que o seu amor é
a minha guia também
e agora os anjos
eu sei que os anjos dizem amém
(refrão)
chegou a hora seu filho nasece pra fazer história mais
um filho de deus(bis)
pra fazer história mais um filho de Deus
pra fazer história mais um filho de Deus.
Eu Te Quero Bem(Alex Góes)
Faz muito tempo que eu não falo mais de amor
Faz muito tempo que o meu lema é a dor
Um lema tão presente, um lema insistente
Um lema que exige toda a minha atenção
Não é verdade que eu não o tenha mais sentido
É que de fato ele é muito bem resolvido
Um amor muito forte, um golpe de sorte
Um amor que exige um pouco mais de atenção
E é só lembrar de quantas vezes eu provei
Que o meu lugar é aqui sempre, ao seu lado
E ninguém tasca
Corre e me abraça que eu te quero bem
Não acho necessário provar pra' ninguém
O que me importa é que você vê muito mais além
Além do que se crê, além do que se prevê
Além do que jaz por trás de tanta pressão.
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sábado, 12 de abril de 2008
Anderson Chokolate
Após sete anos de trabalhos intensos ao lado do Java Roots, é chegado o momento de o artista Anderson Chokolate presentear a todos com seu tão esperado trabalho solo, o CD Realize.
O título foi escolhido Chokolate na etapa final da produção do encarte: “Precisamos transformar nossos sonhos em realidade, acreditarmos que somos capazes e irmos à luta. Nascemos para sermos pessoas vitoriosas, por mais que o mundo tente nos mostrar o contrário. Realize representa mais um passo em minha carreira. Sempre em frente, buscando estar em constante evolução. É como o refrão daquela música do Raul Seixas: ‘Não pare na pista! ’”. Comenta o próprio artista.
Realize revela com doçura as reflexões e a musicalidade de um artista que carrega em sua bandeira sentimentos como Paz, Perseverança, Amizade, Amor e a Esperança. Sentimentos nobres que estão sempre presentes na poesia de Anderson Chokolate. Em cada faixa é possível encontrar a sinceridade com que o artista canta suas mensagens, proporcionando a quem escuta momentos de reflexão e alegria. Trata-se de um disco que fala do desejo mais intimo do ser humano: A felicidade.
FAIXA a FAIXA
Por Anderson Chokolate
01-Nave Mãe
Nave Mãe é a minha declaração de amor a dona Miriam e todas as mulheres que assumem com responsabilidade a nobreza de ser mãe. Por mais que se tente, um homem não é capaz de carregar em seu coração tal sentimento. Por também não conseguir, fiz a canção. É a faixa número 1 por se tratar do primeiro evento de nossas vidas, o nascimento.
02-A Escola
A Escola fala sobre o conflito de um homem perante a certeza do sentimento de uma mulher. Uma mulher quando ama é pra valer. Isso às vezes assusta o homem. A canção trata desse assunto.
03-Montanha Russa
A vida é uma montanha russa emocional! Com ela aprendemos a superar nossos medos e fortalecermos nossa esperança em dias melhores. Para que isso aconteça é preciso trabalho. Uma canção de consolo. Uma palavra amiga para os dias de luta.
04-Ao Te Ver Passar
Uma das minhas prediletas! Essa canção foi inspirada na soul music do cantor norte americano Maxell e seu estilo altamente sensual. É o desabafo de um homem que confessa estar apaixonado e em dúvida. Gosto de escrever sobre conflitos amorosos porque eles também nos ajudam a crescer.
05-Uma Mesquita Sob o Sol
Uma Mesquita Sob o Sol fala sobre a busca do amor “puro e verdadeiro”, como canta a própria canção. O Amor tratado aqui é o Amor Universal, “o que move o mundo inteiro”. Algo tão grandioso que não pode ser explicado. Somente sentido. O homem é seu templo. Sua mesquita.
06-Bela Cigana
Poema que fala dos encantos de uma linda e misteriosa cigana.
07-A Rosa
Minha declaração de amor à vida, a amizade e a tudo que seja verdadeiramente positivo. Por que a Rosa exala o aroma perfeito do amanhã que eu desejo pra todos nós! Diz a canção.
08-Eureca!
Eureca é uma crônica que foi concluída naquele trágico dia 11 de setembro de 2001. Ela questiona a “felicidade do ter”, tão comum nos dias de hoje. É por isso que eu pergunto: ‘E agora que chegamos? Pra onde vamos?’. Será que é disso que realmente precisamos? Vale a pena refletir sobre isso.
09-Quando Amanhecer
Essa é uma canção bastante espiritualizada. A espiritualidade é a mensagem principal do disco. Quando Amanhecer fala da fé em uma força superior, alguém que me conduz a Paz. Cabe a cada um que ouvi-la compreender de quem se trata.
10-Voz do Tempo
Essa canção levanta o clássico e incansável questionamento humano: “Quem sou eu? De onde venho? Pra onde vou?“. A meu ver, tudo tem seu tempo, mas para compreendermos isso bem direitinho é preciso... Tempo. Rs...
11-Na Puxada de Rede
O Homem. O Mar. O Amor. A luta diária pela conquista de uma mulher e seus doces encantos. A vitória. Também fala da pesca e da busca pelo alimento. Uma homenagem à vida praiei
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quinta-feira, 10 de abril de 2008
Mário de Andrade visita Adorno - Convergências e divergências entre o poeta e o filósofo a respeito da indústria cultural e da música popular
O titulo desse texto joga com um dado pouco mencionado quando estudamos a música popular brasileira sob o foco da filosofia da música de Theodor Adorno: a posição contemporânea ocupada por ele e Mário de Andrade.
Causa estranhamento que ainda não se tenha escrito um estudo de fôlego sobre eles, já que refletiram sobre música a partir de uma mesma preocupação, mais exposta em Adorno e um pouco mais nuançada em Mário: a hegemonia do capitalismo. Basta pensar que suas análises musicais partem justamente da música popular veiculada através dos discos e das rádios comerciais1. A despeito dessa proximidade inequívoca, eles permanecem isolados e desconectados. Embora existam muitos pontos de contato, gostaria de tomar apenas um em especial aqui, e ainda assim apenas como o resumo de um estudo mais aprofundado que está em curso: o olhar que ambos lançaram sobre a música popular.
Para que se possa pensar sobre os caminhos atuais da música popular no Brasil, os ensaios de Adorno ainda permanecem incontornáveis e fundamentais, ainda que, de um certo ponto de vista, se possa considerá-los limitados para dar conta do sentido mais profundo que a canção popular atingiu no seio da cultura nacional – o estilo adquiriu entre nós um nível lítero-musical jamais presenciado ou imaginado pelo alemão. Mas Adorno dedicou especial atenção à música em muitos de seus textos, livros e conferências, pois sempre acreditou que ela deveria ser discutida dentro dos círculos da filosofia e da sociologia acadêmica; por isso ele nos é imprescindível.
Mário de Andrade, por sua vez, desenvolveu importantes análises a respeito da música brasileira num momento paralelo à própria formação de uma musicalidade nacional. Suas análises, ainda hoje, são de extrema importância para quem se debruça sobre a história e a teoria da arte musical popular e erudita, ainda que sua visão a respeito da então nascente música comercial possa ser criticada em muitos pontos, como pelo nacionalismo por vezes exacerbado com que lidou com os domínios do folclore, imaginando ser possível quase domesticá-lo para fazer dele a fonte das criações eruditas. Ao aproximá-los, tentaremos mostrar que, de modos diversos, ambos estiveram preocupados com os destinos da música popular, ainda que tenham chegado a lugares completamente diferentes.
A música popular para Adorno
Quando Adorno escreve o prefácio ao livro Filosofia da nova música, de 1948, ele mesmo destaca o ensaio “O Fetichismo na música e a regressão da audição”, de 1938, como um momento determinante de seus estudos sobre a música2. Sua intenção no texto de 38 era apontar as modificações que a percepção musical sofria no interior da indústria cultural, alterações que teriam atingido não só o gosto como a própria faculdade de audição dos ouvintes modernos.
Esse texto, junto com outro do mesmo período, “Sobre música popular” (escrito com a colaboração de George Simpson, com quem Adorno trabalhou no The Princeton Radio Research Project, uma pesquisa sobre os fenômenos musicais das emissões radiofônicas nos Estados Unidos, na qual tomou parte convidado pelo pesquisador Paul Lazarsfeld3) serve de base para este comentário.
Sempre que Adorno escreve mais diretamente sobre música e indústria cultural, faz questão de marcar uma diferença entre a música popular e a chamada música clássica, que ele chama de “séria” (“serious music”). Tal posição, não significa uma parcialidade sua em proveito de uma música erudita que seria hierarquicamente superior à popular, antes parece ter sido gerada pela uniformização dos estilos veiculados nas rádios comerciais, que ele conhecia desde antes do exílio, ainda na Alemanha. E mais do que isso: o conceito de popular utilizado por Adorno, parece vinculado de forma muito estreita ao funcionamento e à especificidade do mercado norte-americano.
A bem da verdade, o que Adorno chama de popular não tem um correspondente similar no Brasil, como afirma Rodrigo Duarte: “Registra-se aqui uma confusão, que não é normalmente feita por Adorno nos textos em alemão, entre ‘música de massa’ e ‘música popular’. Para um norte-americano parece quase impossível fazer essa distinção, já que a autocompreensão dos EUA como uma cultura própria, independente da européia, se dá às vésperas da consolidação dos monopólios culturais. No Brasil, ainda podemos, felizmente, diferenciar -pelo menos em termos parciais- a cultura popular mais enraizada, daquela totalmente fabricada para o consumo, ainda que tenha raízes supostamente populares”4.
A representação mais clara desse processo de decadência da música popular para Adorno era o jazz. Num pequeno texto chamado “A indústria cultural” ele tenciona um pouco mais essa distinção: “A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores. Ela força a união dos domínios, separados há milênios, da arte superior e da arte inferior. Com prejuízo para ambos. A arte superior se vê frustrada de sua seriedade pela especulação sobre o efeito; a inferior perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social não era total”5.
Esses primeiros movimentos servem para indicar alguns pontos de contato entre a abordagem de Adorno do contexto norte-americano e a ligação disso com a canção popular do Brasil. O que aproxima, às vezes estreitamente, a perspectiva de Adorno da nossa é a abrangência global e, quase sempre, atual de suas observações. Vejamos: “Se perguntarmos a alguém se ‘gosta’ de uma música de sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e o não gostar já não correspondem ao estado real, ainda que a pessoa interrogada se exprima em termos de gostar e não gostar. Ao invés do valor da própria coisa, o critério de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser conhecida de todos; gostar de um disco de sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo”6.
No artigo já citado de Iray Carone, encontramos o seguinte: “O negócio da música envolvia, como uma complexa indústria, os editores dos ‘sheets’ ou partituras com arranjos instrumentais e letras do sistema Tin Pan Alley, os donos de orquestras e arranjadores, as gravadoras de discos, os cantores famosos e suas editoras privadas, os ‘pluggers’ (promotores comerciais de músicas), os ‘disc jockeys’ e a prática da ‘payola’ (suborno usado pelas gravadoras para a divulgação intensiva de músicas na programação radiofônica) das emissoras, os interesses da máquina de produção de filmes sonoros de Hollywood etc.”7.
O cenário norte-americano que Adorno tinha diante de si não parece servir como parâmetro para um entendimento adequado do que se passou por aqui na mesma época. O resultado dos processos culturais específicos do Brasil não pode se posto à luz das análises de Adorno desconsiderando questões pontuais; uma entre tantas delas, o fato de que aqui não se produz música séria na mesma proporção que a popular por carências musicais, mas que o cancioneiro popular é hegemônico por conta de um imperativo histórico.
O que está aqui, digamos, para além de Adorno, é o papel diferenciado que as canções populares ocupam no Brasil, seu poder de emancipação, enquanto agente político que foi em momentos chave da história recente do Brasil, já distanciam nosso cenário daquele vislumbrado por ele. Mas isso Adorno não podia saber.
Quando ele reflete sobre o jazz, parece vê-lo apenas como fruto daquele processo de padronização, o que parece restritivo, mesmo que pensemos apenas no contexto americano. Ele não atribui, ou não pôde atribuir, quase nenhuma importância ao cancioneiro popular e nem ao jazz produzidos na América. Em alguns momentos, é muito difícil dialogar com Adorno nesse quesito, como diante de uma afirmação dessa natureza: “Seria igualmente cômodo ocultar a separação e a ruptura entre as duas esferas e supor uma continuidade, que permitiria à formação progressiva passar sem perigo do jazz e das canções de sucesso aos genuínos valores da cultura”8.
Creio que nós, que invocamos Adorno buscando nele um antídoto contra a opressão atual exercida pela indústria sobre o cancioneiro popular do Brasil, nos sentimos órfãos.
Mario de Andrade e um projeto de Brasil
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!
/muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
(Mário de Andrade, “Descobrimento”, de “Dois Poemas Acreanos”)
O poema, de certa forma, mostra que Mário caminhou na contramão de Adorno quando estudou e tentou caracterizar a música popular em geral. Ele já sugere no poema que o Brasil é muito maior que a cidade de São Paulo -e, portanto, maior que o louvor da sofisticação trazida com o capital e os ideais de progresso sem freios- e que o essencial para qualquer projeto de país, já naquele momento, passava pelo entendimento de nosso não-lugar, isto é, de nossa condição multicultural: “Cabe lembrar mais uma vez aquilo do que é feita a música brasileira. Embora chegada no povo a uma expressão original e étnica, ela provêm de fontes estranhas: a ameríndia em porcentagem pequena; a africana em porcentagem bem maior; a portuguesa em porcentagem vasta (...). Além dessas influências já digeridas temos que contar as atuais. Principalmente as americanas do jazz e do tango argentino. Os processos do jazz estão se infiltrando no maxixe. Em recorte infelizmente não sei de que jornal guardo um ‘samba macumbeiro, Aruê de Changô’ de João da Gente que é documento curioso por isso. E tanto mais curioso que os processos polifônicos e rítmicos de jazz que estão nele não prejudicam em nada o caráter da peça. É uma maxixe legítimo. De certo os antepassados coincidem...”9.
Como se vê, desde muito cedo, Mário não estava alheio aos fenômenos de massa e compreendia com lucidez onde e como esses fenômenos agiam sobre a música popular do Brasil. Suas observações, fruto de grande erudição e das viagens que ele empreendeu e organizou país afora, mostram que, desde as origens, nossa música foi alimentada por uma teia de influências de grande complexidade. Essa aproximação da canção popular com o jazz, por exemplo, muitas décadas antes que se desse o mesmo vínculo através da bossa nova, mostra que já havia uma tendência comercial na produção popular, mas que essa ligação entre entretenimento e boa música ainda não era uma relação excludente.
Com isso, se quer confirmar, com Adorno, que o modo de produção capitalista foi avassalador, mas que, contra ele, a arte musical no Brasil não foi abatida como, eventualmente, se deu nos EUA, se acatamos sua análise sem restrições críticas. Mas como é quase consensual, a despeito das diferenças entre o jazz e os ritmos brasileiros na primeira metade do século XX, Adorno não parece ter enxergado devidamente a importância e o significado histórico do gênero nos EUA.
A resistência de Adorno ao jazz pode ser interpretada de várias formas. Em 2003 foi publicado o livro de Christian Bèthume, “Adorno et le jazz - analyse d’um dèni esthétique”. Na resenha do livro, Iray Carone fornece uma hipótese interessante: “Adorno começou a escrever sobre o jazz na Alemanha, onde conheceu o ‘jazz craze’ da República de Weimar: uma verdadeira onda de jazz de segunda mão, uma música de dança, porque os alemães não tinham condições econômicas para lá trazer os seus criadores norte-americanos e tampouco importar os seus discos. Por causa dessa particularidade histórica, o que circulava na Alemanha sob a etiqueta ‘jazz’ era apenas um sucedâneo redutor, uma música de salão, feita de cadências militares e reminiscências folclóricas”10.
1 - De Mário de Andrade, um bom exemplo pode ser encontrado na edição de sua discografia comentada: Toni, Flávia Camargo (Org.). “A Música Popular Brasileira na Vitrola de Mário de Andrade”. São Paulo: Sesc São Paulo/ Senac São Paulo, 2004. De Adorno, podemos citar, por exemplo, sua pesquisa no “The Princeton Radio Research Project”, que comentarei mais adiante.
2 - Adorno, Theodor. "Philosophie der neuen Musik”. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2003, pág. 9.
3 - Sobre o envolvimento de Adorno nesse projeto de pesquisa sobre o rádio nos EUA, ver o artigo de Iray Carone. “Adorno e a música no ar: the princeton radio research project”. Em: “Tecnologia, Cultura e Formação... Ainda Auschwitz”. São Paulo: Cortez Editora, 2003.
4 - Rodrigo Duarte. “Teoria Crítica da Indústria Cultural”. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 192.
5 - Adorno, Theodor. “A Indústria Cultural”. Em: “Adorno”. São Paulo: Ed. Ática, 1986, págs. 92-3.
6 - Adorno, Theodor. “O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição”. Em: “Benjamin, Habermas, Horkheimer, Adorno”. São Paulo: Abril Cultural, pág. 165.
7 - Carone, Iray. “Adorno e a Música no Ar: The Princeton Radio Research Project”. In: “Tecnologia, Cultura e Formação... Ainda Auschwitz”. São Paulo: Cortez Editora, 2003, págs. 82-3.
8 - “O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição”, pág. 169.
9 - Andrade, Mário de. “Ensaio Sobre a Música Brasileira”. São Paulo: Ed. Martins, 1962, pág. 25.
10 - Iray Carone. “A obsessão pelo jazz”. São Paulo: caderno “Mais”, “Folha de S. Paulo”, 2003.
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sábado, 5 de abril de 2008
(Once) Apenas uma vez
Elenco: Glen Hansard, Marketa Irglova, Hugh Walsh, Gerry Hendrick, Alastair Foley.
Direção: John Carney
Gênero: Drama/Romance
Duração: 88 min.
Distribuidora: Imagem Filmes
Estréia: 18 de Abril de 2008
Sinopse: Ele é um talentoso músico, que ganha a vida com seu violão nas ruas de Dublin e ajuda o pai em uma loja de aspiradores de pó. Ela é tcheca que anda pelas mesmas ruas, vendendo rosas para sustentar sua família e tem como hobby o piano. O acaso fez com eles se encontrassem e a paixão pela música fará com que eles vivam uma experiência inesquecível. Uma linda história de amor embalada por músicas que traduzem os caminhos do coração.
Curiosidades:
» É uma história parcialmente autobiográfica – baseada em alguns fatos da vida do diretor.
» Ganhador do Oscar 2008 de melhor música.
É um ótimo filme, que exprime muito sentimento, músicas sensiveis e com um final que vc não espera acontecer!!!
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quinta-feira, 3 de abril de 2008
Adorno e a Indústria Cultural
A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. [2] Com as palavras do próprio Adorno, podemos compreender o porque das suas reflexões acerca desse tema.
Theodor Wiesengrund-Adorno, em parceria com outros filósofos contemporâneos, estão inseridos num trabalho muito árduo: pensar filosoficamente a realidade vigente. A realidade em que vivia estava sofrendo várias transformações, principalmente, na dimensão econômica. O Comércio tinha se fortalecido após as revoluções industriais, ocorridas na Europa e, com isso, o Capitalismo havia se fortalecido definitivamente, principalmente, com as novas descobertas cientificas e, conseqüentemente, com o avanço tecnológico. O homem havia perdido a sua autonomia. Em conseqüência disso, a humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. Em outras palavras, poderíamos dizer que o nosso caro filósofo contemplava uma geração de homens doentes, talvez gravemente. O domínio da razão humana, que no Iluminismo era como uma doutrina, passou a dar lugar para o domínio da razão técnica. Os valores humanos haviam sido deixados de lado em troca do interesse econômico. O que passou a reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade. Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso filósofo, é o fruto de toda essa Indústria Cultural.
Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais. [3] Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema. O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.
É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A Indústria Cultura, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – que aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”. O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher. É a lógica do clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam. Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural. Toda vida torna-se replicante. Dizem os autores:
Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:119).
Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer exemplificam este fato através do episódio das Sereias da epopéia homérica. Ulisses preocupado com o encantamento produzido pelo canto das sereias tampa com cera os ouvidos da tripulação de sua nau. Ao mesmo tempo, o comandante Ulisses, ordena que o amarrem ao mastro para que, mesmo ouvindo o cântico sedutor, possa enfrentá-lo sem sucumbir à tentação das sereias. Assim, a respeito de Ulisses, dizem os autores:
O escutado não tem conseqüências para ele que pode apenas acenar com a cabeça para que o soltem, porém tarde demais: os companheiros, que não podem escutar, sabem apenas do perigo do canto, não da sua beleza, e deixam-no atado ao mastro para salvar a ele e a si próprios. Eles reproduzem a vida do opressor ao mesmo tempo que a sua própria vida e ele não pode mais fugir a seu papel social. Os vínculos pelos quais ele é irrevogavelmente acorrentado à práxis ao mesmo tempo guardam as sereias à distância da práxis: sua tentação é neutralizada em puro objeto de contemplação, em arte. O acorrentado assiste a um concerto escutando imóvel, como fará o público de um concerto, e seu grito apaixonado pela liberação perde-se num aplauso. Assim o prazer artístico e o trabalho manual se separam na despedida do antemundo. A epopéia já contém a teoria correta. Os bens culturais estão em exata correlação com o trabalho comandado e os dois se fundamentam na inelutável coação à dominação social sobre a natureza (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:45).
É importante frisar que a grande força da Indústria Cultural se verifica em proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas necessidades básicas para se viver dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente). Com isso, o consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir e o campo de consumo se torna cada vez maior. Tal dominação, como diz Max Jimeenez, comentador de Adorno, tem sua mola motora no desejo de posse constantemente renovado pelo progresso técnico e científico, e sabiamente controlado pela Indústria Cultural. Nesse sentido, o universo social, além de configurar-se como um universo de “coisas” constituiria um espaço hermeticamente fechado. E, assim, todas as tentativas de se livrar desse engodo estão condenadas ao fracasso. Mas, a visão “pessimista” da realidade é passada pela ideologia dominando, e não por Adorno. Para ele, existe uma saída, e esta, encontra-se na própria cultura do homem: a limitação do sistema e a estética.
Na Teoria Estética, obra que Adorno tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá ele que não adiante combater o mal com o próprio mal. Exemplo disso, ocorreram no nazismo e em outras guerras. Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita. Além disso, para Adorno, a Indústria Cultural não pode ser pensada de maneira absoluta: ela possui uma origem histórica e, portanto, pode desaparecer.
Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.
Referências bibliográficas:
ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores)
ADORNO, Theodor W. Mínima Moralia: Reflexões a partir da vida danificada. Trad. Luiz Eduardo Bisca. São Paulo: Ática, 1992.
HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W., Dialética do Esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
HABERMAS, J. O Discurso filosófico da modernidade. Trad. Ana Maria Bernardo e outros. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.
BARCELLOS, Carine. A questão da moral na cultura contemporânea. In: Comunicações, 4, Piracicaba – UNIMEP, p. 70-90, nov. 2000.
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* Formado em Filosofia pelo Seminário Arquidiocesano de Maringá (PR)
[1] Adorno tem um capítulo específico sobre a Indústria Cultural contido na Dialética do Esclarecimento onde, em parceria com Horkheimer, ele trata do assunto.
[2] Cf. T. W. Adorno, Os Pensadores. Textos escolhidos, “Conceito de Iluminismo”. Nova Cultural, 1999.
[3] Cf. idem.
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